12/08/2007

Caminhada da Ribeira do Quelhas


Domingo, final da manhã. Atravessamos a Serra da Lousã, entre nevoeiros e caminhos que nunca tinha atravessado. Nos planos está um percurso pedestre no Coentral, pequeno povoado a poucos quilómetros de Castanheira de Pêra.


Ao percurso encontrado na Internet, acrescenta-se um mapa militar já assinalado, também descoberto ao acaso. De qualquer forma, nenhum dos elementos é suficientemente sério nem nós temos noções de orientação para nos garantirem um percurso bem “orientado”. De qualquer forma não há grande perigo. Não estamos propriamente na selva nem, conforme nos apercebemos durante o percurso, deixamos de ver a aldeia, estradas florestais ou vários outros pontos de referência civilizacional...


Iniciamos a caminhada, ou passeio fotográfico, melhor dizendo, com um objectivo simples: subir a ribeira. Apesar de estarmos a entrar em Dezembro, tem chovido muito pouco e facilmente saltamos de um lado para o outro da ribeira, sempre atentos ao musgo e às pedras húmidas que aqui pouco ou nenhum sol recebem nesta altura do ano.


Um atrás de outro, surgem pequenos lagos e cascatas que vamos descobrindo enquanto inexperientemente ultrapassamos as rochas que, quietas e ao frio, ficam com o nosso suor e em troca nos oferecem pequenas areias, vegetação morta e invisíveis insectos que certamente abundam com toda esta vida que acompanha o curso de água.


Se fossemos em grupo não nos safávamos. Em cada três metros um de nós pára para captar na máquina um breve instante deste vale. Começo a preocupar-me com o tempo. Apesar de ser relativamente cedo, não conhecemos o caminho nem para onde vamos ao certo e a luz do sol não dura muito nesta altura do ano. Apesar de tudo, com Coentral à vista descansamos e continuamos.


Ao longo do percurso sentimos a dificuldade a aumentar, não percebendo ainda, porém, o porque da classificação de “difícil a muito difícil” anunciado no programa. Por vezes desaparece o trilho mas, não sabendo bem como, volta a aparecer mais à frente. A ignorância reserva-nos estas surpresas.

De entre os locais mais bonitos por que passámos, não posso deixar de mencionar a clareira onde uma árvore velha e uma nova, competiam pelo esplendor das suas folhas amarelas de Outono. São delas os créditos das próximas fotos.



(photo by Alexandre Alves)

Mais à frente chegamos ao momento chave do percurso. É aqui que começa o “difícil a muito difícil”. Uma escarpa húmida indica-nos a subida mas não fornece qualquer ponto de apoio para o fazer. Relembro que nenhum de nós faz isto regularmente, nem muito menos pratica escalada. Teremos que fazer tudo conscientes de que estamos a avançar em segurança. Olhamos para cima e vemos o que serão uns vinte metros de declive perigoso com um aspecto escorregadio e traiçoeiro.

O meu amigo, talvez por ser mais comprido ou talvez mesmo por ser mais destemido, arrisca e passa ao nível seguinte. Eu tento mas não sinto equilíbrio sob os pés. Sem querer colocar a hipótese de voltar para trás agora que estava a ficar interessante, opto por outro trajecto onde só vejo musgo, ervas húmidas e arbustos baixos. Salvam-me os pequenos ramos e galhos secos. Durante 15 minutos, literalmente a rastejar junto ao solo e a agarrar tudo que pareça aguentar uma fracção do meu peso, ponho-me à prova, bem como às minhas botas que, pelos rasgos que hoje apresentam, não se safaram tão bem como eu.


No final da fase mais difícil, a vista compensa mas outro desafio surge. Não há propriamente um caminho traçado no chão e vamos seguindo o mapa conforme o entendemos. No meio do vale, impera o silêncio até ao momento em que os gigantes aerogeradores começam a funcionar. Não fazem muito barulho, mas sem dúvida que eliminam o silêncio natural do vale.


Pouco depois, subimos o caminho que nos levará à estrada florestal. São quase duzentos metros bem penosos que tiram o fôlego e obrigam a parar por diversas vezes. Só aqui nos começamos a aperceber de marcas deixadas por caminhantes anteriores. Bem jeito tinham dado mais atrás...

Já na estrada florestal olhamos para o horizonte e questionamo-nos porque não há árvores por aqui... Algum incêndio? Algum programa de reflorestamento falhado? O que é certo é que o vale ficaria bem melhor vestido de algumas frondosas árvores como a que me prendeu o olhar lá em baixo junto ao rio.

Regressamos ao Coentral por um caminho único, coberto de ouriços e folhas secas e ladeado por muros de pedra que os anos deixaram de contar. Que melhor forma de terminar o passeio?



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1 Comments:

At December 09, 2007 8:17 PM, Anonymous Anonymous said...

Parabéns aos corajosos!!!! Que belo passeio e que belas fotos!!! Luís, parabéns pelo blog!

 

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